segunda-feira, 31 de agosto de 2009
A Brevidade da Rosa
Cavalgada
Eis que olhei para trás
e meus erros haviam secado
pendurados nos galhos do tempo.
Havia uma voz no vento,
tomei meu cavalo e a segui.
Na algibeira paz derradeira
de quem ama a solidão.
E quando a noite do fim dos dias
tocar-me a face com os negros dedos,
docemente entregarei o corpo à terra,
soltarei o alazão às pastagens
e a alma...à imensidão.
Lenise Marques
e meus erros haviam secado
pendurados nos galhos do tempo.
Havia uma voz no vento,
tomei meu cavalo e a segui.
Na algibeira paz derradeira
de quem ama a solidão.
E quando a noite do fim dos dias
tocar-me a face com os negros dedos,
docemente entregarei o corpo à terra,
soltarei o alazão às pastagens
e a alma...à imensidão.
Lenise Marques
domingo, 30 de agosto de 2009
É Meu Este Poema Ou é de Outra?
É meu este poema ou é de outra?
Sou eu esta mulher que anda comigo
E renova a minha fala e ao meu ouvido
Se não fala de amor, logo se cala?
Sou eu que a mim mesma me persigo
Ou é a mulher e a rosa escondidas
(Para que seja eterno o meu castigo)
Lançam vozes na noite tão ouvidas?
Não sei. De quase tudo não sei nada.
O anjo que impulsiona o meu poema
Não sabe da minha vida descuidada.
A mulher não sou eu. E perturbada
A rosa em seu destino, eu a persigo
Em direção aos reinos que inventei.
Hilda Hilst
Sou eu esta mulher que anda comigo
E renova a minha fala e ao meu ouvido
Se não fala de amor, logo se cala?
Sou eu que a mim mesma me persigo
Ou é a mulher e a rosa escondidas
(Para que seja eterno o meu castigo)
Lançam vozes na noite tão ouvidas?
Não sei. De quase tudo não sei nada.
O anjo que impulsiona o meu poema
Não sabe da minha vida descuidada.
A mulher não sou eu. E perturbada
A rosa em seu destino, eu a persigo
Em direção aos reinos que inventei.
Hilda Hilst
Aflição de Ser Eu e Não Ser Outra.
Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
Hilda Hilst
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
Hilda Hilst
O Vento e Eu
O vento morria de tédio
Porque apenas gostava de cantar
Mas não tinha letra alguma para a sua própria voz,
Cada vez mais vazia...
Tentei então compor-lhe uma canção
Tão comprida como a minha vida
E com aventuras espantosas que eu inventava de súbito,
Como aquela em que menino eu fui roubado pelos ciganos
E fiquei vagando sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo...
Mas o vento, por isso
Me julga agora como ele...
E me dedica um amor solidário, profundo!
Mario Quintana
Porque apenas gostava de cantar
Mas não tinha letra alguma para a sua própria voz,
Cada vez mais vazia...
Tentei então compor-lhe uma canção
Tão comprida como a minha vida
E com aventuras espantosas que eu inventava de súbito,
Como aquela em que menino eu fui roubado pelos ciganos
E fiquei vagando sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo...
Mas o vento, por isso
Me julga agora como ele...
E me dedica um amor solidário, profundo!
Mario Quintana
Nos Salões do Sonho
Mas vocês não repararam, não?!
Nos salões do sonho nunca há espelhos...
Por quê?
Será porque somos tão nós mesmos
Que dispensamos o vão testemunho dos reflexos?
Ou, então
- e aqui começa um arrepio -
Seremos acaso tão outros?
Tão outros mesmos que não suportaríamos a visão daquilo,
Daquela coisa que nos estivesse olhando fixamente do outro lado,
Se espelhos houvesse!
Ninguém pode saber... Só o diria
Mas nada diz,
Por motivos que só ele conhece,
O misterioso Cenarista dos Sonhos!
Mario Quintana
Nos salões do sonho nunca há espelhos...
Por quê?
Será porque somos tão nós mesmos
Que dispensamos o vão testemunho dos reflexos?
Ou, então
- e aqui começa um arrepio -
Seremos acaso tão outros?
Tão outros mesmos que não suportaríamos a visão daquilo,
Daquela coisa que nos estivesse olhando fixamente do outro lado,
Se espelhos houvesse!
Ninguém pode saber... Só o diria
Mas nada diz,
Por motivos que só ele conhece,
O misterioso Cenarista dos Sonhos!
Mario Quintana
domingo, 23 de agosto de 2009
Roda Viva
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
Chico Buarque
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
Chico Buarque
Procurando Estrelas
Faz frio! Vou em busca de agasalho.
Oh! Lágrimas... (e luto por contê-las!)
Olhos abertos, procurando estrelas,
sigo, e na estrada minha mágoa espalho.
As flores choram lágrimas de orvalho,
lágrimas vivas, trêmulas e, ao vê-las,
vejo toda a criação chorando pelas
folhas a balançar em cada galho.
Sigo tristonho... Baila pelo espaço
o lamento das coisas que ficaram
sem um amor, sequer, para entendê-las.
Deixo um pouco de dor por onde passo...
Paro. Olho o céu. As mágoas debandaram
ante o esplendor do riso das estrelas!
Lago Burnett
Oh! Lágrimas... (e luto por contê-las!)
Olhos abertos, procurando estrelas,
sigo, e na estrada minha mágoa espalho.
As flores choram lágrimas de orvalho,
lágrimas vivas, trêmulas e, ao vê-las,
vejo toda a criação chorando pelas
folhas a balançar em cada galho.
Sigo tristonho... Baila pelo espaço
o lamento das coisas que ficaram
sem um amor, sequer, para entendê-las.
Deixo um pouco de dor por onde passo...
Paro. Olho o céu. As mágoas debandaram
ante o esplendor do riso das estrelas!
Lago Burnett
Sugestão
Onde há um pouco de ti, encontrarás, por certo,
um pouco de minha alma, um pouco do meu sonho,
porque surgiste, assim, no meu viver tristonho,
rasgando o véu do amor que eu trazia encoberto...
Vencido à sugestão do teu olhar risonho,
sigo, no meu destino, os teus rastros, de perto,
e busco achar no céu, nos mares, no deserto,
um tema que enriqueça os versos que componho.
Andes por onde andar, sigo-te, passo a passo!
Sinto que estás em mim, no cérebro, nas veias,
giro em torno de ti, satélite no espaço!
Para onde vais, me vou, cativo, acorrentado,
e embora tendo ao lábio a frase por que anseias,
não ouso revelar e sigo-te ignorado...
Lago Burnett
um pouco de minha alma, um pouco do meu sonho,
porque surgiste, assim, no meu viver tristonho,
rasgando o véu do amor que eu trazia encoberto...
Vencido à sugestão do teu olhar risonho,
sigo, no meu destino, os teus rastros, de perto,
e busco achar no céu, nos mares, no deserto,
um tema que enriqueça os versos que componho.
Andes por onde andar, sigo-te, passo a passo!
Sinto que estás em mim, no cérebro, nas veias,
giro em torno de ti, satélite no espaço!
Para onde vais, me vou, cativo, acorrentado,
e embora tendo ao lábio a frase por que anseias,
não ouso revelar e sigo-te ignorado...
Lago Burnett
O Lado Bom
Quero ser uma ilha,
um pouco de paisagem,
uma janela aberta,
uma montanha ao longe,
um aceno de mar.
Quando precisares de sonho,
de um canto de beleza,
de um pouco de silêncio,
ou simplesmente
de sol... e de ar...
Quero ser o lado bom
em que pensas,
isto que intimamente
a gente deseja
mas nem sempre diz
- quero ser, naquela hora,
o que sentes falta
para seres feliz...
Que quando pensares
em fugir de todos
ou de ti mesma, enfim,
penses em mim...
J. G. de Araújo Jorge
um pouco de paisagem,
uma janela aberta,
uma montanha ao longe,
um aceno de mar.
Quando precisares de sonho,
de um canto de beleza,
de um pouco de silêncio,
ou simplesmente
de sol... e de ar...
Quero ser o lado bom
em que pensas,
isto que intimamente
a gente deseja
mas nem sempre diz
- quero ser, naquela hora,
o que sentes falta
para seres feliz...
Que quando pensares
em fugir de todos
ou de ti mesma, enfim,
penses em mim...
J. G. de Araújo Jorge
Poética
Enquanto procuravam conceituar a poesia
E velavam sua face
Com palavras perfeitas,
Enquanto marcavam com sinais agudos
As fronteiras do domínio poético,
Enquanto a inteligência perseguia o mistério –
Veio descendo a tarde
E uma doçura mortal
Envolveu a rua e o mundo.
No céu quase roxo,
No céu incerto e delicado,
Asas escuras fugiam
Do noturno próximo
E subitamente, sinos
Soluçaram.
Augusto Frederico Schmidt
E velavam sua face
Com palavras perfeitas,
Enquanto marcavam com sinais agudos
As fronteiras do domínio poético,
Enquanto a inteligência perseguia o mistério –
Veio descendo a tarde
E uma doçura mortal
Envolveu a rua e o mundo.
No céu quase roxo,
No céu incerto e delicado,
Asas escuras fugiam
Do noturno próximo
E subitamente, sinos
Soluçaram.
Augusto Frederico Schmidt
Eu Quero Falar de Amor
Vendo tanto sofrimento,
espalhado pela vida,
quero parar um momento,
pra buscar uma saída,
que seja alegre e risonha,
como a beleza das flores,
que muitos encantos ponha,
nas almas dos sonhadores,
que carregam no seu peito,
a ilusão do amor perfeito,
sem mágoas e sem dissabor.
que possa embalar corações,
e ao som de bonitas canções,
eu quero falar só de amor . . .
Samuel Nunes
espalhado pela vida,
quero parar um momento,
pra buscar uma saída,
que seja alegre e risonha,
como a beleza das flores,
que muitos encantos ponha,
nas almas dos sonhadores,
que carregam no seu peito,
a ilusão do amor perfeito,
sem mágoas e sem dissabor.
que possa embalar corações,
e ao som de bonitas canções,
eu quero falar só de amor . . .
Samuel Nunes
Por Teu Amor...
O meu amor é assim
Louco, insano
Quente e sem fim
Por teu coração
Por ti, em mim...
O meu amor é assim
Por tua paixão
Que é chama!
Viva, eloqüente
Louca, na cama
Que inflama
Tudo em mim...
O meu amor é assim
Pelos beijos teus
Que provoca
Os desejos meus
Sem ilusão
Assim que são
Por ti, em mim...
O meu amor é assim.
Dolandmay
Louco, insano
Quente e sem fim
Por teu coração
Por ti, em mim...
O meu amor é assim
Por tua paixão
Que é chama!
Viva, eloqüente
Louca, na cama
Que inflama
Tudo em mim...
O meu amor é assim
Pelos beijos teus
Que provoca
Os desejos meus
Sem ilusão
Assim que são
Por ti, em mim...
O meu amor é assim.
Dolandmay
domingo, 16 de agosto de 2009
Orfandade
Meu Deus,
me dá cinco anos.
Me dá um pé de fedegoso com formiga preta,
me dá um Natal e sua véspera,
o ressonar das pessoas no quartinho.
Me dá a negrinha Fia pra eu brincar,
me dá uma noite pra eu dormir com minha mãe.
Me dá minha mãe, alegria sã e medo remediável,
me dá a mão, me cura de ser grande,
ó meu Deus, meu pai,
meu pai.
Adélia Prado
me dá cinco anos.
Me dá um pé de fedegoso com formiga preta,
me dá um Natal e sua véspera,
o ressonar das pessoas no quartinho.
Me dá a negrinha Fia pra eu brincar,
me dá uma noite pra eu dormir com minha mãe.
Me dá minha mãe, alegria sã e medo remediável,
me dá a mão, me cura de ser grande,
ó meu Deus, meu pai,
meu pai.
Adélia Prado
O Inacabado Que Há Em Mim
Eu me experimento inacabado. Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina.
Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo,
O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.
Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nesta hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.
Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil.
Melhor mesmo é continuar na esperança confluências futuras. Viver para sorver os novos rios que virão. Eu sou inacabado. Preciso continuar.
Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo,
O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.
Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nesta hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.
Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil.
Melhor mesmo é continuar na esperança confluências futuras. Viver para sorver os novos rios que virão. Eu sou inacabado. Preciso continuar.
Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida. A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim. Um dia sou multidão; no outro sou solidão. Não quero ser multidão todo dia. Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz querer ser só. Eu sou assim. Sem culpas. (Fábio de Melo)
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Plano
Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.
Nuno Júdice
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.
Nuno Júdice
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Penetralia
Falei tanto de amor! ... de galanteio,
Vaidade e brinco, passatempo e graça,
Ou desejo fugaz, que brilha e passa
No relâmpago breve com que veio...
O verdadeiro amor, honra ou desgraça,
Gozo ou suplício, no intimo fechei-o:
Nunca o entreguei ao público recreio,
Nunca o expus indiscreto ao sol da praça.
Não proclamei os nomes, que, baixinho,
Rezava... E ainda hoje, tímido, mergulho
Em funda sombra o meu melhor carinho.
Quando amo, amo e deliro sem barulho;
E, quando sofro, calo-me, e definho
Na ventura infeliz do meu orgulho.
Olavo Bilac
Vaidade e brinco, passatempo e graça,
Ou desejo fugaz, que brilha e passa
No relâmpago breve com que veio...
O verdadeiro amor, honra ou desgraça,
Gozo ou suplício, no intimo fechei-o:
Nunca o entreguei ao público recreio,
Nunca o expus indiscreto ao sol da praça.
Não proclamei os nomes, que, baixinho,
Rezava... E ainda hoje, tímido, mergulho
Em funda sombra o meu melhor carinho.
Quando amo, amo e deliro sem barulho;
E, quando sofro, calo-me, e definho
Na ventura infeliz do meu orgulho.
Olavo Bilac
domingo, 2 de agosto de 2009
Quando Chegares
Não sei se voltarás
sei que te espero.
Chegues quando chegares,
ainda estarei de pé, mesmo sem dia,
mesmo que seja noite, ainda estarei de pé.
A gente sempre fica acordado
nessa agonia,
à espera de um amor que acabou sendo fé...
Chegues quando chegares,
se houver tempo, colheremos ainda frutos,como ontem,
a sós;
se for tarde demais, nos deitaremos à sombra e
perguntaremos por nós...
J. G. de Araújo Jorge
sei que te espero.
Chegues quando chegares,
ainda estarei de pé, mesmo sem dia,
mesmo que seja noite, ainda estarei de pé.
A gente sempre fica acordado
nessa agonia,
à espera de um amor que acabou sendo fé...
Chegues quando chegares,
se houver tempo, colheremos ainda frutos,como ontem,
a sós;
se for tarde demais, nos deitaremos à sombra e
perguntaremos por nós...
J. G. de Araújo Jorge
Ciranda de Mariposas
Vamos todos cirandar
ciranda de mariposas.
Mariposas na vidraça
são jóias, são brincos de ouro.
Ai! poeira de ouro translúcida
bailando em torno da lâmpada.
Ai! fulgurantes espelhos
refletindo asas que dançam.
Estrelas são mariposas
(faz tanto frio na rua!)
batem asas de esperança
contra as vidraças da lua.
Henriqueta Lisboa
ciranda de mariposas.
Mariposas na vidraça
são jóias, são brincos de ouro.
Ai! poeira de ouro translúcida
bailando em torno da lâmpada.
Ai! fulgurantes espelhos
refletindo asas que dançam.
Estrelas são mariposas
(faz tanto frio na rua!)
batem asas de esperança
contra as vidraças da lua.
Henriqueta Lisboa
A Janela Encantada
Assinar:
Postagens (Atom)