Quero uma casa com paredes azuis,
com varandas vidradas sobre a noite.
Um abrigado lugar no eixo do silêncio.
Um espaço intemporal. Sagrado.
Ancorado perto de um signo lunar,
ou preso a um verão inesperado.
Quero dançar dentro das palavras líquidas:
água, rio, mar, lágrimas,
talvez o orvalho que escorre pelas árvores de madrugada.
Quero atravessar uma crónica de viagem,
conspirando contra os profetas de marés sobressaltadas,
para não morrer sufocada na engrenagem do medo.
Quero ficar seduzida de uma espera,
no imaginário dos que sonham
e gritar a idade circular de qualquer afecto.
Quero amar o pretexto branco dos meus olhos,
sem precipitar a cor translúcida das raízes
que prendem a noite à palidez do sol, na sedução do amanhecer
e deixar, depois, que um azul extenuado me denuncie.
Graça Pires
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