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domingo, 26 de julho de 2009

Indagações

Procuro a vida sem preconceitos
gentes iguais, diferenças nenhuma

Quero no lago da vida
matar a sede do meu grito caduco
que ecoa pelo universo
em busca dos sonhos antigos

Indago pelos segredos,
falo do meu amor
brindo aos sentimentos
do lado escuro de mim
Conceição Bentes

Aprendiz


Sou guardião dos dias
em que se mascava o fumo da algibeira,
e o tecido escorria pelas mãos das tecelãs.
Comia, faminto, a maçaroca dos tachos,
recontava, aflito, o rebanho nos pastos,
percebia a prenha, o piolho e a inanição.


Aprendiz de um tempo novo,
persigo ruas e luas
(nuas!...)
E nunca entendo a vida,
enquanto versus morte,
pretendo ir ao sul e quando atinjo é norte,
se dou início, encontro-me no fim.
O aconchego que agasalha a alma:
onde o sono tranqüilo,
a vastidão que acalma,
e o céu pintado, azul-anil?


Aprendiz de um tempo novo,
nem tudo que escutei eu realmente ouvi
pra onde olhei, muito pouco eu vi.
Parece que retenho o que persigo em mim...
os passos que aguardo,
as sombras de que necessito,
o som que me enternece,
enquanto a noite cresce
no futuro que há de vir.


Criança minha, que o destino há de parir,
aguardo a virada dos dias,
prometo acolhê-la e sorrir.
O novo está mais velho
e ainda assim sou aprendiz,
apesar de todo o tanto que já fiz !...
Georgina Albuquerque

Hóstias


Posto que os dias são hóstias
e o cálice, a vida,
eu persigo um tempo maior
que percorra meu corpo como água corrente.
Que o novo se apresente
e eu de mim me ausente!...
Visões diferentes, asas de um pássaro
perverso e inocente,
venha o que ainda não vi
e sobre meus cabelos insinue um véu.
Georgina Albuquerque

sábado, 4 de julho de 2009

Horas


Vieste buscar as horas
Que, quando ainda jovem,
Deixaste abandonadas
No pêndulo do relógio?

Elas trincaram a pele
Do reboco que escondia
A fraqueza das paredes
E a insolência do passado
E descoloriram a retina
Das cortinas que protegiam
A sala das vidraças, do sol
E dos maus olhados.

Leve-as contigo.
Guarde-as.

Guarde-as como quem guarda
O pão caseiro,
No forno do fogão
Cobertas por um pano de prato
Para que testemunhem a saciação
De quem as quer consumidas.

Guarde-as como quem guarda
A aliança de noivado,
Na caixinha de música,
Para que denunciem a subtração
De quem as quer furtadas.

Guarde-as.

Porque elas te encheram a vida de tempo
E lhe farão experimentar o fim.
Oswaldo Antônio Begiato

Vício Supremo


Eu te amo.

Estou irremediavelmente apaixonado.
Eu te amo e não sei o que fazer com esse sentimento.
Tudo tão intrigante! Tudo tão sacrossanto! Tudo tão simples:
- Amar.
Sinto o Universo cabendo dentro da mais ingênua declaração de amor:
- Eu te amo! É ou não é um Universo?

Nem mais consigo comer. Pensar em ti me sustenta.
Estou sólido. Colunas gregas: Dórica, Jônica e Coríntia.
Nem mais consigo dormir. Sonho acordado.
Estou viajando. Sonhos muitos: lúcidos, místicos, canalhas...
Vivo embriagado de ti. Sou boêmio de ti e tu és meu vício supremo.
Enquanto me embriago com tuas formas límpidas
vou decifrando a fórmula de um novo perfume,
o perfume de tua insubstituível presença.

Juntos construímos, em meus novos limites,
vitrais, altares, paramentos, flores, sinos...
...enquanto isso te ofereço preces, dádivas, horas, eternidades...

O amor me torna frágil...
...e frágil me ponho a te amar mais ainda
porque, preciosa, tu te tornas minha mais precisa precisão.

Te amar é o Universo todo
contido na mais pequenina declaração de amor:
- Eu te amo! Nada mais se faz necessário sentir.

Há nisso um templo e um tempo que só nós dois podemos entender.
Oswaldo Antônio Begiato